Pinturas podem ser reproduzidas como gravuras? A cozinha da pintura é uma e a da gravura, outra. Seus ingredientes são diferentes e a sua manipulação exige um conhecimento específico. Contudo, existem incontáveis pintores que hoje em dia digitalizam suas pinturas e as imprimem às dezenas, às vezes, até em tecidos de qualidade, para posterior comercialização valendo-se de um processo de natureza industrial chamado giclê. Alguns chegam mesmo, a enumerá-las. O resultado, à primeira vista, pode enganar. Mas tanto a textura da pincelada, quanto a própria matéria da tinta, inexistem nas cópias e torna-se evidente a sua enorme diferença frente ao original.

Gravadores sérios dedicam décadas das suas vidas ao complexo aprendizado da técnica e à construção lenta e rigorosa de uma linguagem pessoal. Elegem a gravura como meio de criação preferencial justamente por sua natureza especial. E generosa: gravura de ótima qualidade pode figurar na coleção de pessoas com renda modesta, mas gosto refinado e conhecimento consistente da arte e sua história.

Mas nada impede um artista de gravar e pintar também, desde que saiba entender as singularidades de cada um desses fazeres, não os confundindo e não os desrespeitando.

Àqueles artistas que preferem só pintar mas não abrem mão de vender clones imperfeitos de suas obras, conviria informar aos compradores destes últimos que eles vão adquirir quadros que viverm na mesma zona cinzenta dos posters. Não podem, a rigor, ser classificados nem como gravuras, nem como pinturas. Mas podem, sem dúvida, decorar um pouquinho melhor a sua casa ou o seu escritório.